quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A CRUZ DE CRISTO


A cruz é a loucura de Deus. Do ponto de vista racional, é impossível pensar num Deus sofrendo a morte, e morte de cruz. Mas, como disse Mark Shaw, “a aparência de Deus como um tolo derrotado é como um jogo, onde ele dá a vida no lugar da humanidade caída”. A cruz localiza Deus em nossa fraqueza e imundícia.

No mundo antigo existiam vários tipos de cruzes. Havia um tipo de cruz em formato de “X”, chamada em latim de crux decussata. Parece que esse é formato da cruz mencionada em Ez 9.4: e lhe disse: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal a testa dos homens que suspiram e gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela.” O termo “sinal”, em hebraico, é “um tav”, a última letra do alfabeto hebraico. No passado essa letra tinha a forma de um “x”, indicando o antigo formato da cruz.  No relato de Ezequiel, o tav na testa era um sinal de livramento. A mesma idéia aparece em outros textos bíblicos, ainda que com outras palavras:  o sinal colocado em Caim (Gn 4.15), a marca de sangue nas ombreiras das portas dos israelitas (Ex 12.22-23). Assim também os crentes em Cristo serão preservados do juízo divino (Ap 7.3).

Havia também um outro formato de cruz, chamada em latim de crux commissa (cruz comissa), que tinha a forma de um “T” maiúsculo. Um terceiro tipo de cruz é aquela desenhada pela arte cristã, a crux immissa (cruz imissa). Trata-se de um poste vertical com uma barra horizontal (†). Jesus foi crucificado nessa cruz, pois acima de sua cabeça, na barra transversal, havia um espaço para a escrita (Mt 27.37).  O verbo “crucificar” (Mt 27.35) é a  tradução do grego stauroo, que significa “fixar” ou “fincar com estacas”. A palavra “cruz” literalmente significa “estaca”, porque originalmente era uma estaca usada em fortificações, que depois passou a ser usada como instrumento de tortura e morte. Adicionou-se a travessa horizontal (patibulum), na qual a pessoa era amarrada ou cravada. As vítimas crucificadas carregavam apenas a travessa horizontal.

Na época de Jesus a crucificação era comum. Os romanos herdaram esse método dos fenícios e cartagineses. Somente os escravos ou as pessoas mais indignas da sociedade eram crucificados. Jesus foi considerado como uma dos mais indignos de sua época.

Antes da crucificação, Jesus foi “açoitado” (Mt 27.26). Esta palavra (do grego phragelloo) tem o sentido de “espancar” ou “flagelar”. O chicoteamento era feito por uma língua de couro em cuja ponta havia pedaços de ossos ou metais. Depois do açoitamento, “o criminoso era amarrado ou pregado à viga transversal, que eram, então, erguida e pregada à viga vertical. Os pés eram pregados então à estaca vertical. Um pequeno assento de madeira era colocado na parte vertical da cruz, para que o corpo contorcido não sofresse completo colapso, enquanto também prolongava a agonia da vítima. A morte vinha por sufocação, esgotamento ou hemorragia.” (Dewey M. Mulholland).

A cruz era símbolo de vergonha para os romanos. Para os judeus, ela significava maldição. Para os cristãos, entretanto, ela se tornou o maior símbolo do amor de Deus. Ela é a prova definitiva que a maior vergonha pode ser tornar a maior glória. Ela anuncia que a morte não pode dar a última palavra. Pois Deus foi até o lugar mais vergonhoso, demonstrou ali seu poder, fazendo da loucura da cruz o meio para a salvação. E agora o Senhor nos mostra que, independente onde nós estejamos, seja na derrota, na dor ou na morte, Ele pode estar ali conosco, e reverter qualquer situação.

Pr Luciano R. Peterlevitz

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